lunedì 9 ottobre 2017

Um ano de Itália

No último dia 28 de setembro, eu e meu marido completamos um ano de Itália. Há um ano chegamos em Brescia cheios de sonhos e inseguranças, corações aflitos, longe de todos que amávamos.
Pensando bem, acho que nossos amigos tinham um pouco de razão quando diziam que éramos loucos. Abrimos mão da casa própria, do carro novo, do emprego bom, mas mais do que tudo, abrimos mão da segurança de estar na nossa zona de conforto.
A crise no Brasil, a crescente violência, a iminência de perder o emprego, tudo isso era a desculpa perfeita. Em 2010 passamos um ano na Bélgica e tivemos que voltar para que eu terminasse a faculdade. A verdade é que desde esse regresso "forçado" nossos corações estiveram sempre batendo no velho mundo.
Pois bem, como eu ia dizendo, nós viemos. 
Lembro bem de estar dentro do avião sem conseguir dormir, pensando em tudo que mudaria. Mesmo que estivesse preparada para todo tipo de mudança, ainda estava longe de imaginar o desafio que teria pela frente.
Logo na primeira semana, foi a língua. Eu, super tagarela, não conseguia me comunicar apesar de falar português, francês e inglês com fluência. Apesar de um mês de aulas particulares de italiano, mal podia comprar pão. 
Em seguida, nos deparamos com um obstáculo que tem se mostrado até hoje difícil de transpor, a burocracia italiana. Se você acha que tem PhD em burocracia porque é brasileiro, amigo, você não conhece a Itália! Nada demora menos de um mês. NADA. Quer registrar seu endereço no comune? Um mês. Quer fazer sua carteira de saúde? Um mês. Transcrever sua certidão de casamento? Um mês. 
O que mais me tirava do sério não era nem a demora, mas a falta de uniformidade nas informações. Um dia era um documento, no outro eram dois documentos e no terceiro dia não precisava mais de nenhum papel. Ainda engatinhando na língua, tínhamos a missão de arrumar todos os documentos, entrar nos órgãos públicos com um sorriso no rosto com frases ensaiadas no Google Translator.
Quando finalmente tínhamos tudo pronto, não demorou até o João encontrar um emprego na área dele. Indicação de um amigo, é claro. Afinal, aqui na Itália tudo, absolutamente tudo, depende de sua rede de contatos.
Foi nessa fase que tudo ficou mais difícil para mim, Mariana. Eu, médica, cirurgiã, hiperativa, independente. Eu, sozinha, longe da família e da minha profissão, eu tentando enfrentar um inverno gelado que acontecia com mais rigor dentro de mim do que lá fora.
Veio a primavera e de repente nada mais parecia tão difícil como antes. Tinha o apoio do meu marido, tinha os primeiros passos na validação do meu diploma, tinha finalmente alguns amigos com quem eu podia falar na minha própria língua sem rodeios. E assim como as águas de março fecham o verão brasileiro, minhas lágrimas abriram uma nova fase aqui. 
Se eu me arrependo? Nem por um segundo! Me sinto mais forte, mais sensível e mais empática, sou mais paciente e menos ansiosa. Acima de tudo, sinto que estou exatamente onde deveria estar. Claro que estamos longe da perfeição. Existe um longo caminho para seguirmos, em especial a validação do meu diploma e o meu esperado retorno à profissão que faz parte de mim. Mas enquanto esse dia não chega, sou feliz e muito grata por ter tido coragem de tomar essa decisão.
Como ouvi de uma amiga expatriada como eu, não viajo para confirmar as minhas crenças, eu viajo para me desafiar, para reaprender e me desconstruir!
Muito obrigada à você que está lendo esse texto e nos acompanha nesse blog, você também fez parte da nossa história durante esse ano cheio de aventuras!

4 commenti:

  1. Desafios... é isso que move o ser humano, não é? :)
    Parabéns por esse primeiro ano de aventuras!!!

    RispondiElimina
  2. Parabéns ao casal por essa maravilhosa conquista!!!!!!!!!

    RispondiElimina
  3. Oi Mari ! Que corajosos !!! Sou anestesista, tenho cidadania e aquele italiano macarrônico de falar com os avós em criança. Tenho muita vontade de ir para Itália. Como é revalidar o diploma ? Existe enfermeiros anestesistas aí ?

    RispondiElimina
  4. Oi Angel!
    Foi sim um ato de coragem! Mas, olhando pra trás, ficamos muito felizes por termos largado tudo para virmos atrás desse sonho.
    Quando eu cheguei aqui, não falava nada em italiano (não recomendo!) e meu marido tinha um nível razoável. Aprendi bastante com a TV e estudando sozinha. Tive também a sorte de vir morar pertinho de uma família italiana que nos acolheu - e me ensinou tudo!
    A revalidação dos diplomas da área da saúde é lenta, complexa e cara. Existem duas formas de fazê-la aqui: a administrativa, onde você envia uma série de documentos para o ministério da saúde em Roma e depois presta uma prova, e a acadêmica, onde você deve prestar o exame de admissão novamente e validar cada uma das disciplinas individualmente, para depois apresentar um TCC na universidade italiana que você cursou.
    Eu optei pela administrativa, já que a acadêmica pode levar até 6 anos. Levei um ano para reunir os documentos e estou aguardando o parecer para realizar a prova.
    Quanto à enfermeiros anestesistas eu não sei te informar! Mas provalvemnte é como na medicina, eles validam a graduçaõ mas não a especialidade.
    Sinta-se a vontade para perguntar! É um prazer responder!

    RispondiElimina