mercoledì 21 marzo 2018

The story hunter

I woke up today felling a little awkward. I wasn’t missing my family as usual, or the beautiful house I left in Brazil, nor my grandma’s delicious food. I was missing a part of me, a big part of me that stayed when I came. I missed who I was in my profession.


When we decided to come to Italy, I knew that for a while I would have to give up my profession. After all, medicine is one of the most regulated professions in the world and no wonder - serious countries protect their own population from bad doctors. But the fact that I knew in advance that I would have to be "on hold" for a while doesn’t make that wait any less painful.

Unlike so many colleagues, I knew from the very beginning of my life what the profession was like. I knew what was like to spend the afternoon in the emergency waiting room while my mother was on duty. I knew what was like to look for my father in the audience of my first communion while he had to operate a very ill patient. I knew my aunt's expression when she would left a family meeting to assist a birth. If anyone in the world does medicine for the glam, surely that person is not me.

From an early age, I was interested in the history of people. I was talkative and loved meeting new people. I remember looking at the small windows of huge buildings and imagining what the life of those people in there was like, what their stories were, their dreams. And it was thus, out of pure curiosity and thirst to know more about people, that I ended up being a doctor. Of course, coupled with the fact that I aways felt at home whenever I would be in a hospital.

That’s how an anxious 19 year old girl entered her first college class at the Federal University of Santa Catarina on September 11, 2006. The future was all mine! I had secured my perfect profession at the perfect university (where my whole family had studied, beside my home, and especially where my mother had worked as a nurse since my childhood).

For six years, I learned about lungs and intestines, viruses and bacteria, all kinds of diseases and all kinds of cures. My favorite moments were those at the edge of a patient's bed, where I could talk and get to know more about that individual and his story. It was the fisherman who did not feed until I found out that he only ate fish, it was the woman with cervical cancer who had never gone to the gynecologist in her life because she felt ashamed, the child under chemotherapy who caressed my hair for not having her own.

Medicine is my profession and my amusement park. It's a big part of my heart and my soul. How do I handle being away for so much?

I've been in Italy for exactly 18 months. Six months ago, I sent all the documents to the Ministry of Health in Rome to be analyzed (for those who want to know what these documents are, here is the link). I'm still waiting for their response and every day is a new challenge. My profession sometimes seems distant enough to be considered another life.

But love is still greater and I am sure that my long years of training as a doctor and then as a surgeon will never be in vain. If these years have served to make me a bit more empathic and more generous about the pain of the others, it is enough to make me a better person, willing to make things (in or out of my profession) work.

Currently, I work as a volunteer at an non-profitable organization that aims to integrate immigrants of various nationalities into Italian culture. You can not imagine how many stories I've heard! How I was received with affection by people who do not speak with their mouths but with the voice of their hearts. In the end, I found a place where I could be a "story hunter" and still help others. Today I fell cured every day by the contagious energy of people who left everything behind to survive or to give a decent life to their children.

Although I still want to go back to my profession, I'm happy today with everything life has given me so far.

A caçadora de histórias alheias

Hoje eu acordei com saudade. Não foi da família como de costume, ou da casa linda no Brasil, nem do strogonoff. Eu tive saudade da parte de mim que ficou quando eu vim. Senti saudade de quem eu era na minha profissão.



Quando resolvemos vir para a Itália, eu sabia que por um certo tempo teria que abrir mão da minha profissão. Afinal, a Medicina é uma das profissões mais regulamentadas do mundo e não é por menos - países sérios protegem sua população de maus médicos. Mas fato de eu saber de ante-mão que teria que ficar "em suspenso" por um tempo não faz com que essa espera seja menos dolorosa. 

Ao contrário de tantos colegas, eu sabia desde criança como era a profissão. Sabia como era passar os fins de tarde na sala de espera da emergência enquanto a minha mãe passava o plantão. Sabia como era procurar meu pai na platéia da minha primeira comunhão quando ele estava operando um paciente grave. Eu conhecia bem a expressão da minha tia quando saía de um encontro da família pra fazer um parto. Se alguém no mundo faz Medicina pelo glamour, certamente essa pessoa não sou eu.

Desde muito pequena, eu me interessava pela história das pessoas. Era tagarela e amava conhecer gente nova. Me lembro de olhar para as pequenas janelas dos enormes prédios e imaginar como era a vida de quem vivia ali dentro, quais eram suas histórias, seus sonhos. E foi assim, por pura curiosidade e sede de saber mais sobre as pessoas, que eu acabei médica. Claro, somado ao fato de que eu não conhecia nenhum outro ambiente onde me sentisse tão em casa como dentro de um hospital.

Foi mais ou menos assim que uma menina ansiosa de 19 anos entrou na sua primeira aula da faculdade na Universidade Federal de Santa Catarina em 11 de setembro de 2006. O futuro era todo meu! Eu tinha garantido minha profissão perfeita, na universidade perfeita (onde toda a minha família havia estudado, ao lado de casa e, sobretudo, onde minha mãe trabalhava como enfermeira desde a minha infância). 

Durante seis anos, aprendi sobre pulmões e intestinos, vírus e bactérias, todo tipo de doença e todo tipo de cura. Meus momentos preferidos eram aqueles à beira do leito de um paciente, onde eu podia conversar e conhecer mais daquele indivíduo e da sua história. Era o pescador que não se alimentava até eu descobrir que ele só comia peixe, era a senhora com câncer de colo de útero que nunca tinha ido ao ginecologista na vida por pura vergonha, a criança em quimioterapia que acariciava meus cabelos por não ter mais os próprios para fazer penteados infantis...

A Medicina é minha profissão e meu parque de diversões. É uma grande parte do meu coração e da minha minha alma. Como fazer pra ficar longe?

Estou na Itália há exatos 18 meses. Seis meses atrás, enviei todos os documentos para o Ministério da Saúde em Roma para que fossem analisados (para quem quiser saber quais são esses documentos, aqui está o link). Ainda estou esperando a resposta deles e cada dia é um novo desafio. A minha profissão, às vezes, parece distante o suficiente para ser considerada outra vida.

Mas o amor ainda é maior e tenho certeza de que meus longos anos de formação como médica e depois ainda como cirurgiã nunca serão em vão. Se esses anos serviram para me tornar mais empática e mais generosa com relação a dor do outro, já é o suficiente para me tornar uma pessoa melhor, disposta a fazer as coisas (dentro ou fora da minha profissão) darem certo.

Atualmente, trabalho como voluntária em uma ONG que visa integrar os imigrantes de várias nacionalidades na cultura italiana. Você não pode imaginar quantas histórias ouvi! Como fui recebida com carinho por pessoas que não falam com a boca e sim, com a voz do coração. No fim das contas, eu encontrei um lugar onde posso ser a "caçadora de histórias alheias" e ainda ajudar os outros. Eu que estava acostumada a curar, hoje sou curada todos os dias pela energia contagiante de gente que largou tudo para sobreviver, para dar uma vida digna aos filhos, para poder simplesmente respirar traquilo.

Embora, ainda deseje muito voltar a minha profissão, hoje sou feliz assim.

venerdì 16 marzo 2018

The art of solving problems you did not know existed


It has been a while since I first thought about this, writing my blog in Portuguese and English (one day, soon I hope, it will be in Italian as well). Here I write about my thoughts about living away from my home country and every day life in Italy. I was born and rised in Brazil, where I also learned English, so pardon me if you find some errors – I’m really not an English native speaker!



The art of solving problems you did not know existed



Yeah, that’s it. Living in another country is the art of solving problems that you didn’t even know that could exist. “oh, but you live in Europe, nothing can be that bad!”
No, it isn’t bad. But it’s a very important part of the adapting process and of your real life, the one side tourists don’t get do see.
For example, nobody from a tropical country knows that there’s an especial product that you have to put in the windshield wiper fluid so it doesn’t freeze during winter. And how about putting chains in your tires? I really pray that I’d never ever have to put these on my on. I would definitely stay inside of the car crying waiting for someone to do it for me!

Last week, after a very cold month, I cleaned the fireplace. There was – literally – one kilo of ashes! Guys, I’ve never had a fireplace in my life! I thought it was self cleaning!

And the garbage? This is another problem that I deal with on a daily basis and never thought could be this challenging. Here in Brescia, we have FIVE types of garbage: organic, plastic, paper, undifferentiated, tin and glass. Everything single piece of trash has to be thought through. Don’t forget to wash as it will be sitting in your house for a little while (they collect only once a week). But I feel really grown up when I read the labels just to be sure where to put it!
About the safety where I live, you can sleep careless knowing that your front door is opened (done that several times), buuut you will have to buy a 30 euros chain to make sure you find your bike is where you’ve left it.

Here, you could find clothes from all around the world (specially from India), but you will ask your mom to bring you some denim that are a good fit for your brazilian curves or a pair of leggings thick enough not to be seen trough when you bend.

At some point, you’ll find out that this amazing supermarket where you buy brie cheese and swiss chocolate for a bargain do not have the ingredients to make your favorite dishes. And you're going to turn to that bad looking chinese market around the corner...

All the medicines have different names. Even those commons you used to get for a headache. But you’re only going to find out that on this one day that you’re really late and have to run to pharmacy to get and an anti-acid.

Did you know an eggplant rottens in three days if it stays outside your fridge? Well, when I lived in Brazil, I had all my meals in a restaurant near by. Here, I cook EVERY SINGLE MEAL and now I can tell how long any vegetable survive around here!

No, these are not problems, they’re more about the way you get to live your life in a completely different place with a different culture. It worths! The moment you wake up and realize that you’re exactly where you wanna be all these things vanishes away.

I’d like to know from you, expatriated like myself, how hard has been it?

A arte de resolver problemas que você não sabia que existiam

Sim, isso mesmo. Morar em outro países nada mais é do que a arte de resolver problemas que você nem sabia que existiam.
"Ah, mas você mora na Europa, não pode ser tão ruim assim, né?"
Não, não é ruim. Mas é parte importante da adaptação e da sua vida real, aquela de todo dia - beeem longe da realidade do turista.

Por exemplo, ninguém que vem de um país tropical sabe que precisa colocar um aditivo no líquido do limpador do parabrisa para a água não congelar no inverno. E colocar corrente nos pneus? Rezo para nunca precisar colocar uma dessas sozinha na estrada. Juro que vou fechar os vidros, me enrolar no casaco e chorar até achar alguém que coloque pra mim!

Esses dias, depois de uma semana gelada de neve, resolvi limpar a lareira. Tinha - literalmente - um quilo de cinzas!!! Gente, eu nunca tive lareira na vida! Achava que era tipo churrasqueira, que é quase auto-limpante.

E o lixo? ahhh, esse é outro problema que resolvo toda semana e que nem sabia que podia ser tão complicado. Como já contei aqui, no dia-dia, temos CINCO tipos diferentes de lixo: orgânico, plástico, papel limpo, lata e vidro e indiferenciado. Cada coisa que você pega precisa pensar onde vai. De preferência, deve lavar bem antes de colocar no lixo certo, já que vai ficar na sua casa por uma semana (e pode não cheirar muito bem...). Me sinto adulta mesmo é quando não sei onde vai uma coisa e me pego lendo o rótulo para descobrir certinho onde põe!

Sobre a segurança, na cidade onde eu moro, você pode dormir com a chave pelo lado de fora da fechadura ou com o carro aberto (já fiz várias vezes)... maaas deve comprar uma corrente de 30 euros para assegurar que sua bicicleta esteja ali quando você voltar.

Você acha todo tipo de roupa do mundo todo por bons preços, mas vai pedir pra sua mãe trazer uma calça jeans que conheça suas curvas brasileiras ou uma legging que não fique transparente quando você se abaixa.

Em algum momento, vai descobrir que aquele supermercado maravilhoso onde você compra queijo brie e chocolate suíço a preço de banana não tem leite condensado e chocolate granulado. E vai apelar praquele mercadinho chinês de produtos estrangeiros que tem um cheiro estranho...

Os remédios comuns, aqueles pra gripe e dor muscular, têm nomes diferentes. E, claro, você só vai descobrir isso naquele dia em que está com pressa e morrendo por causa de uma mísera gripe.

Você sabia que uma berinjela mofa em três dias na sua fruteira mas dura uma semana na geladeira? Pois é, eu comia todos os dias fora quando morava no Brasil. Hoje cozinho TODAS as refeições e posso te dizer exatamente quanto cada vegetal vive por aqui!

Não são exatamente problemas, são adaptações da vida que você levava e da realidade em que você está. Vale a pena cada perrengue, cada novo aprendizado quando você tem a certeza de que está no lugar certo!

Quero saber da galera expatriada por aí, qual o problema que vocês aprenderam a resolver? 

Pra quem não sabe, brasileiro expatriado é tipo uma gangue ultra secreta. Nós contrabandeamos erva-mate pros amigos gaúchos, trocamos informações secretas sobre a loja que vende faca de serra e fazemos reuniões de caráter duvidoso para falarmos nossa língua ancestral!